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HISTÓRICO
Em uma época onde experimentamos varias formas de presença, qual o sentido de propor uma dança a partir de um encontro físico? Quais aspectos dessa situação não poderiam ser explorados via streaming ou vídeo? Como atualizar as ideias sobre corpo, dança, coreografia, performance, diante das transformações do nosso tempo?
Dark Room é uma proposta coreográfica para espaços escuros que tem acontecido em diferentes contextos desde 2013 e tem se revelado um lugar interessante para gerar e buscar responder perguntas como essas, porque o espaço escuro está muito relacionado com uma atitude investigativa. Suprimir uma parte da informação nos convida a completa-la, implica nosso corpo. A escuridão traz a vitalidade do encontro com o desconhecido, evoca a capacidade de re-conhecer coisas.
Das questões mais diretamente ligadas à linguagem, o espaço escuro propõe de inicio uma revisão do papel do espectador, que se percebe dentro da coreografia. Somos convidados a re-conhecer esses papeis (performer/espectador/coreógrafo) e re-desenhar suas relações, na direção de um pensamento sistêmico, onde os diferentes elementos podem atuar em relação de co-dependencia.
Em certa medida podemos dizer que nessa experiência todos são convidados a viver o papel de performer, já que não é possível pensar nas oposições dentro/fora do espetáculo. De alguma maneira podemos dizer também que é possível a todos viver a experiência do coreografo, porque a posição de cada um altera concretamente a coreografia, de modo que uma estrutura coreográfica pode ser desdobrada em tantas coreografias quanto o numero de pessoas presentes.
A própria noção de coreografia é revisitada quando retiramos da experiência coreográfica um de seus pilares estruturais: a visualidade. A dança tem sido culturalmente explorada como algo a ser visto. Desde quando escrita pela primeira vez em 1700, por Raol Auger Feuillet, a palavra coreografia já vinha associada à imagem bidimensional, mais diretamente ligada ao desenho. O procedimento coreográfico seria mediado pela antecipação virtual da dança sobre uma folha de papel em branco. Essa relação com o plano virtual e bidimensional do desenho seria o cerne do pensamento da dança ocidental, a sua fundação.
Em um momento onde a produção e consumo de imagem ganham extrema importância social, cultural, econômica e afetiva na vida das pessoas, percebemos a pertinência de re-ver as hierarquias dos sentidos na cultura do corpo e da dança, trazendo o foco dos estudos para a experiência/acontecimento/cena/performance e investigando, para além da visualidade, as peculiaridades desse tipo de presença no estudo coreográfico.
O ESCURO ILUMINA O CORPO